quarta-feira, maio 02, 2007

Crônica de uma alma em colapso

Na esquina algumas prostitutas, pessoas saindo do restaurante, luz amarela dos postes transformando o frio da rua em solidão sedutora. Ele vinha com as mãos nos bolsos, lágrimas nos olhos, passando de cabeça baixa pelas pessoas, tentando compreender o que era aquilo. Que dor era aquela, disforme e viscosa, que lhe tomara o peito, drenava o sangue, enfraquecia o músculo que bate e o deixava sem ar, como peixe fora d'água tentando respirar? Que espasmo era aquele que contraia todas as células e o colocava prostrado no chão com a alma em colapso?

Era a vontade de chorar pela morte anunciada de algo não nascido, a dor de perder o que não se teve. Pensamento longe, dedos sobre a mesa girando o cinzeiro, como se fosse sua cabeça, força centrípeta para que as emoções pudessem se aquietar e dizer seus nomes.

Coisa que se constrói do nada. 'Eu não te conheço! Então, qual o motivo? Não há'. São demônios do ar, um vírus para o qual não existe prevenção nem remédio, ele se multiplica rápido, infesta o corpo, percorre os nervos, a espinha, se aloja em cada canto, transformando desejo em dor.

Apetite voraz em busca de alimento.

Um rápido olhar, leve toque, outro olhar, profundo, furando a íris feito agulha em busca de outro sentido que processe toda sua intenção, muda e sem gestos. Uma música na rua em plena madrugada para os que passam e para ele que vai embora.

Erro do tempo, engenharia sem cálculos nem lógica deste lugar onde habitamos.

Mnemônico. Lá está ele no córtex cerebral, o mesmo sorriso congelado. Imagem persistindo na retina e em algum lugar entre os sentimentos, se escondendo entre as vísceras do outro sem querer partir.

Mas ele parte, não sabendo que no outro ele permanece sem hora para ir embora. Assim, sem explicação.

Um comentário:

Alê Marucci disse...

Menino, você é bom nisso! Mais crônicas, por favor.
Beijo.