Canção de Mim Mesmo
...
Me elevo da lua .... me elevo da noite,
E percebo nesse lívido lampejo os raios do sol do meio-dia refletidos,
E desemboco no que é estável e está no centro do maior ou menor rebento.
Aquela coisa em mim .... não sei o que é .... só sei que está em mim.
Cansado e suado .... calmo e fresco fica meu corpo;
Durmo ... durmo por muito tempo.
Não sei o que é .... não tem nome .... é uma palavra não dita,
Não figura em nenhum dicionário nem expressão nem símbolo.
Algo que gira acima de algo mais imenso que a Terra aonde giro,
Para ela a criação é o amigo cujo abraço me faz recordar.
Quem sabe diga mais alguma coisa .... Esquemas! Imploro a meus irmãos e irmãs.
Estão vendo isso Ó meus irmãos e irmãs?
Não é caos nem morte .... é forma e coesão e projeto .... é vida eterna .... é felicidade.
O passado e o presente definham .... já os enchi e esvaziei,
Passo a encher minha própria dobra do futuro.
Vocês que me escutam aí em cima! Você aí .... algum segredo para me contar?
Me encare enquanto assopro o discreto poente,
Seja sincero, ninguém está te ouvindo, só vou fiar mais um minuto.
Me contradigo?
Tudo bem, então .... me contradigo;
Sou vasto .... contenho multidões.
Me concentro nos que estão perto .... espero na porta.
Quem terminou o batente e vai jantar mais cedo?
Quem quer passear comigo?
Você vai falar antes que eu vá embora? Ou virá quando já for tarde demais?
O falcão pintado dá uma rasante sobre mim e me acusa .... reclama de minha conversa fiada, minha preguiça.
Também não sou facilmente amestrado .... também não sou facilmente traduzível,
Solto meu grito bárbaro sobre os telhados do mundo.
A última nuvem do dia se demora por mim.
Lança minha semelhança após o resto, fiel como todas nos ermos sombrios,
Me incita pro vapor e pro crepúsculo.
Vou-me feito vento .... agito meus cabelos brancos contra o sol fugitivo,
Esparramo minha carne em redemoinhos e a deixo flutuar em retalhos rendados.
Me entrego à terra pra crescer da relva que amo,
Se me quiser de novo me procure sob a sola de suas botas.
Vai ser difícil você saber quem sou ou o que estou querendo dizer,
Mas mesmo assim vou dar saúde,
Vou filtrar e dar fibra a seu sangue.
Não me cruzando na primeira não desista,
Não me vendo num lugar procure em outro,
Em algum lugar eu paro e espero você.
terça-feira, dezembro 09, 2008
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