segunda-feira, março 12, 2007

The Knife

Meu fim-de-semana chama-se beija-flor. Aparece na sua janela, mas voa tão rápido que quando você vira para olhar, já foi embora. Sexta-feira apática que pedia para não ficar em casa, e assim, depois de reunir amigos em casa e esperar a Stela chegar do Rio, os dois mosqueteiros rumaram à d-edge depois de ingerir um pouco de suquinho gummy. Som perfeito, mas passei a noite brigando com minha consciência/ego/auto-controle, não conseguindo relaxar nenhum instante, analisando todas as coisas e criando um verdadeiro manual de instruções para o uso da expressão "carpe diem". E assim, sob o peso do meu fracasso em deixar a vida me levar, voltei para casa e fui dormir, depois de analisar um jeito de parar de analisar, ao som de The Knife, minha atual banda antiga preferida. Mais uma vez posterguei meu discurso de levantar cedo no sábado de manhã e resolver todas as coisas urgentes e pendentes do fantástico mundo de bobby. Ao invés disso, fomos para um churrasquinho na casa da Melissa, "agradabilíssimo", onde terminei tomando 1 litro de caipirinha, mantendo o ciclo labirintite de ser. Um filminho nada a ver, "Um beijo a mais", para terminar a noite e assim, encontrar o Michel e o Jussi. O Jussi se mudou lá para casa este fim-de-semana, onde vai ficar até sua partida para a Finlândia. Conversamos até altas horas da madrugada. Domingo, acordar, ir até a concessionária e resolver o problema da falta de transporte de uma vez por todas, depois almoçar e novamente ir ao cinema, dessa vez para assistir "Letra e Música", comédia romântica bobinha, perfeita para um domingo bobinho. Depois do filme, ir para casa encontrar o Ricardo, um equatoriano que também está ficando lá em casa enquanto resolve suas coisas aqui em São Paulo. Depois, rumar para o bar, tomar o último chopp do fim-de-semana - os gringos, a carioca, a gaúcha e eu -, voltar para a filial das Nações Unidas na rua Bela Cintra e acabar a noite assistindo "Na cama com Madonna" e não entender nadinha porque esse filme chocou tanto as pessoas quando foi lançado. Now everybody's living in a material world...

The finnish guys

sexta-feira, março 09, 2007

Lições de vida do BBB

Ontem fui visitar minha mãe e, no metrô, fiquei observando o que as outras pessoas liam. Tinha essa moça, com uniforme do trabalho, lendo em uma revista a la Contigo, Ti-ti-ti, qualquer coisa parecida, uma matéria intitulada "As lições de vida do BBB". No meio de todo o blá blá copiado dos livros de auto-ajuda e que tentavam fazer uma ponte entre o "reality world" e o "reality show", estavam tópicos como lealdade, perseverança, honestidade, blá blá blá. E a moça parecia tão séria lendo tudo aquilo, como se realmente fizessem sentido, como se a vida dela tivesse sido iluminada. Fiquei pensando, "meu deus, o que acontece com o mundo?". Na verdade, o que acontece com um jornalista para ele ter a tamanha capacidade de escrever isso sem ficar falando para si mesmo, "caraca, estudei quatro anos para isso!" - ou realmente precisa da grana, ou... prefiro pensar que só precisa da grana.

...

"(...) como ia dizendo, não se esquive do fato de haver uma história em suspenso aqui, não digamos assim, pois uma história jamais fica suspensa: ela se consuma no que se interrompe, ela é cheia de pontos finais internos, o que a gente imagina que poderia ser talvez uma continuação às vezes não passa de um novo capítulo, eventualmente conservando as mesmas personagens do anterior, mas seguindo uma ordem cujas regras nos são ilusoriamente às vezes familiares? ou inteiramente aleatórias? Isso eu não sei, mas a verdade é que chega-se sempre longe demais quando não se quer Ir Direto Aos Fatos, (...)"

Trecho de "Os Companheiros (Uma história embaçada)",
conto de Caio Fernando Abreu

quinta-feira, março 08, 2007

As mulheres e seu dia...

Acho que sempre tive mais amigas do que amigos. Elas são meu refúgio quando me canso de ouvir falar de motores, bola e... motores. Tenho ótimos amigos também, que são meu refúgio quando preciso falar assuntos de meninos. Mas... as mulheres tem sua graça particular. A primeira mulher que a gente nunca esquece, claro, a mãe, encabeça minha lista. Com outra dividi toda minha infância, brigas e descobertas, minha irmã. Depois, minha primeira melhor amiga veio lá no tempo da faculdade, cheia de singularidades de uma terrinha distante, o Piauí. E assim conheci Melissa. Outras completaram o grupo - Simone, Walkíria, Eliane, Carol. Depois, as mulheres do trabalho - Sônia, Carmen, Larissa, Tuca. Com cada uma delas aprendi tanto sobre algo particular. Primeiro dia de pós-graduação e duas mulheres maravilhosas eu posso então conhecer - Andressa e Renatinha. E depois a vida me deu outras melhores amigas, Stela e Kátia, além de trazer outras tão especiais e queridas - Rapha, Rifi, Fé, Mari, Paola, Mikiê. Tem ainda as meninas do teatro, as meninas de BH, as meninas-gringas, enfim, mulheres. E você pode aprender muito com elas, sobre tudo. Primeiro você se dá conta de como elas são extremamente capazes, de como possuem força de vontade muito superior a dos homens em levar as coisas adiante, de realizar e concluir algo. Você pode se impressionar em como elas conseguem fazer milhares de coisas ao mesmo tempo, em como estão atentas a todos os detalhes. De como são fortes e ao mesmo tempo frágeis. De como também tem vontades, fraquezas e inseguranças. De como precisam ser ouvidas, precisam de carinho e amizade. Você pode aprender que pode contar de verdade com uma mulher, para o que der e vier, inclusive para o choppinho no fim da tarde. Você vai entender o que é TPM. Você nunca vai querer ser o único homem em um grupo de sete mulheres, vendo-as tagarelar sem parar, mas se isso acontecer, você vai saber o que as faz rir, o que elas gostam (não, não é só de sapatos que elas gostam) e tudo o que circunda o universo feminino. Parabéns mulheres, essas mulheres do meu pequeno mundo, pelo seu dia. Vocês fazem eu me sentir o pequeno príncipe - cada dia, uma nova descoberta.

Indignado

Estava voltando do teatro hoje e flagrei duas mães com 4 crianças entre 5 e 10 anos, na rua Augusta, mandando uma das crianças ir até o restaurante da esquina e conseguir que alguém pagasse uma coca-cola, e outra criança ir até a pizzaria e pedir um guaraná. As crianças respondiam que não, que tinham vergonha, e as mulheres obrigavam, "vai lá logo, fala que tá com fome, eles dão". E assim dois lados de toda uma geração são educados: o lado daqueles que crescem acreditando que não é preciso esforço para conseguir algo, e sim, que os outros têm obrigação de lhe dar as coisas; e aquele lado que cresce acreditando que o resto do povo é malandro e mal-intencionado, e que não merece ter nada. Tá difícil viu, bem difícil para esse país mudar.

quarta-feira, março 07, 2007

Criticamente crítico

Hoje o Lucas me retratou sobre minhas críticas infundadas sobre o teatro, que eu não poderia generalizar toda uma produção teatral a partir da análise de apenas três peças, feitas em São Paulo e em condições muito similares. Pior que eu concordo com ele, apesar de minhas impressões sobre cada uma delas serem as mesmas. Mas eu concordo, Piruca, e venho aqui me redimir. Mas olha, falar que o texto de Hotel Lancaster é bom, é forçar a barra - a mulher se suicidar e isso ser noticiado assim, sem mais nem menos, e o fato não provocar no público nada além de uma reação "sim, mas e daí?", é um dos sinais de que o texto é irrelevante. E outra coisa, falta trabalho, muito trabalho, e mais força de vontade para não fazer as coisas de qualquer jeito, do jeito que dá. Só assim para melhorar.

terça-feira, março 06, 2007

E por falar em interpretação...


fui assistir, no último domingo, à Notas sobre um escandâlo, do diretor Richard Eyre (A Bela do Palco), com Cate Blanchet e Judi Dench. O filme aborda a relação de amizade/obsessão entre Bárbara, uma professora veterana solitária e frustrada, e Shab, uma novata que começa a dar aula na mesma escola que Bárbara. E não vou falar mais do que isso para não perder a graça. O roteiro, uma adaptação do livro homônimo de Zoe Heller, é assinado por Patrick Marber (Closer) e faz verdadeiro carpaccio da natureza humana, fatia por fatia, tal lâmina afiada que o é. E as atrizes, famintas, se lambuzam. A atuação é um verdadeiro duelo de talentos e um trabalho de ator que beira à mediunidade. Passei o filme de boca aberta, e a sensação de perplexidade ainda continua. Como elas conseguem? ... aos diabos com a rainha...

A sensação de ter asas

A arte do espetáculo sob três pontos de vista

Recentemente fui assistir a três peças em cartaz em São Paulo, com temáticas e abordagens completamente diferentes, e analisá-las me deixa com uma sensação de estranhamento em relação ao teatro brasileiro, pois não consigo posicioná-lo e dimensioná-lo como arte. Não mais. Lembrando meu estudos de estética na universidade, grosseiramente falando, a arte opera justamente quando consegue tirar o espectador do plano da realidade e fazer com que este consiga transcendê-lo, pondo em xeque (ou confirmando) seus valores, crenças, sentimentos e emoções - ou apenas trazendo o indíviduo à esfera do belo e do aprazível. Pois bem, depois de me lembrar disto, só me resta a sensação de que a produção teatral em nosso país, com meu parco conhecimento do assunto, é confusa, beirando o meta-público (se um dia vier a existir esse termo) - um teatro feito críticos, e não mais para o espectador comum. Comecemos pelo estado das salas - é cool sentar no chão, amontados em lugares pequenos e abafados, ser alternativos. Tudo bem que a arte não conhece o luxo, e acontece em qualquer lugar, mas quando isso vira requisito básico, é preocupante. As salas mais bem preparadas só trazem vaudeville. E nas demais, você se revira na cadeira dura e mal ajambrada por três horas consecutivas (citando as instalações da unidade provisória do SESC Paulista, durante a apresentação do ótimo "Círculo de Giz Caucasiano"). Mas enfim, vamos às peças.



HOTEL LANCASTER
Provavelmente ganhou as quatro estrelinhas no guia da Folha pela excelente atuação de alguns dos atores, que nos deixam a pergunta se realmente estavam drogados em cena para conseguir atingir tal resultado. Mas a dramaturgia é pobre. Quem já não viu tal história? Um bando de desajustados em busca de nada - nem de redenção. A peça acaba assim também, no nada. E o pior foi que no dia em que assisti eu gostei, e gostei bastante. Mas depois, analisando friamente, nosso mundo contemporâneo precisa de mais. O texto não consegue nem ser o retrato do vazio, quanto mais conseguir transpô-lo.



ALDEOTAS
No dia não gostei muito, achei um trabalho menor de teatro. Mas não, e como estava errado. Precisava assistir, e re-assistir, e assistir de novo. Um texto delicioso, que sem recursos cênicos nenhum, te transporta para sua infância, para a fazenda no interior, para o gosto de terra, para as brincadeiras, para seu melhor amigo. Você tem quase duas horas de um prazer inenarrável, onde Gero e Marat te tornam cúmplice das histórias de seus personagens. Um texto sem pretensões, mas que te tocam, tocam lá no fundo. Ainda faltam o cenário, uma iluminação eficiente, o figurino, a música - essa falta só nos faz lembrar que um bom texto não precisa de nada disto - no momento em que vivemos, época de total descrença, o que vale é a palavra e a verdade que ela carrega, nada mais. Mas como diz o próprio texto de Gero Camilo, "é preciso um certo tempo para se fazer uma boa crítica".



KEROUAC
Eis a prova da total alienação teatral em que vivemos. Um ator vociferando palavras, cuspindo na platéia, suando, pulando, batendo uma máquina de escrever da forma mais esdrúxula possível e uma série de clichês que tentavam tornar o texto mais didático para uma geração que não viveu a década de 60, só podia resultar em 50 minutos de profundo distanciamento do objeto em estudo, o próprio Kerouac. Nenhuma nuance, nenhum sentimento, nada daquilo que está registrado em seus diários ou em suas entrevistas. Só achômetro colocado da pior forma possível: a superficial e sem embasamento para uma platéia que desconhece o assunto e toma por incrível o trabalho de um ator em puro frenesi. Repetindo uma frase do Wilde que é repetida constantemente na peça, "o caminho do excesso leva à sabedoria". Nesse caso, não posso concordar. O excesso, às vezes, é só excesso. E de fuder foi fechar com "Like a rolling stone", de Bob Dylan. Quer mais clichê que isso?

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Que Deus devolva a voz aos artistas. Ou que continuemos a recorrer a Nelson, Plínio, Caio, Clarice, todos vocês que tinham algo para falar e ser compreendido.

Rio de Janeiro

Depois de um carnaval mais do que tranquilo, restava alguma esperança de poder curtir o samba no pé e ter resposta àquela pergunta, "onde você foi no carnaval?". Muito mais do que isso, a razão que me levava ao Rio não era tão boa assim: a mudança de uma amiga que adora aquela cidade e que, por força do destino (mais forte que o Katrina), foi trabalhar em terras cariocas. Esse post poderia ser sobre as maravilhas do Rio... sobre a sensação de estar na Lapa e fazer parte daquela malandragem gostosa e sem tamanho que é marca registrada do carioca; ou a sensação de estar em Ipanema e aplaudir a ida do sol, que cedia gentilmente espaço para a noite; ou ainda os botecos intermináveis que preenchem as ruas arborizadas, a simpatia local cheia de uma malandragem facilmente burlada e enganada pelos paulistanos sem alma e coração. Ou ainda sobre o desfile do Monobloco que reuniu 70 mil pessoas em Copacabana e, mesmo sob todos meus protestos de ficar correndo atrás de um trio elétrico com pessoas empurrando e um sol de 40 graus queimando meu cucuruto, não ter como ficar insensível ao ver todas essas pessoas pulando e cantando "Fio maravilha, nós gostamos de você" em uníssono. Podia falar ainda da sensação indescritível de pular de asa-delta pela primeira vez, da Pedra da Gávea à São Conrado em 15 minutos de puro êxtase com aquela vista espetacular, com o Cristo nos acenando um tremendo "tomem cuidado". E como esquecer os momentos inesquecíves da nossa volta para São Paulo - Mikie, Michel, Jussi, Tuomas e eu - curtindo toda a trasheira 80's nacional e internacional, vendo os finlandeses dançar Kaoma com a maior empolgação e classificarem esta como a melhor música brasileira de todos os tempos. Cada vez que chego no Rio me esqueço porque desgosto tanto daquela cidade - toda a imagem "jornal nacional" que tenho dela se apaga tão logo eu entre em uma ruazinha de Botafogo ou Copacabana, aquelas pequenas veias que nos remetem tão diretamente ao espírito brasileiro. E você esquece que está em uma das cidades mais violentas do país, porque é esse o espírito do Rio. Ele te transcende. Mas não, não é sobre isso que eu queria falar. Queria falar sobre amizade. É, amizade.

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O Homem-de-lata estava lembrando como Doroty entrou na sua vida e todas as coisas pelas quais passaram e que os tornaram tão amigos. Ela agora está lá no Rio, curtindo tudo aquilo que ela sempre esperou, e ele está tremendamente feliz por ela. Ele está aqui em Sampa, curtindo as mesmas coisas que sempre fez e recebendo ventos de mudança. E isso é bom também. As mudanças acontecem para quem vai e para quem fica, como latia totó. Doroty é daquelas meninas que levantavam cedo para ir acompanhar o homem-de-lata na 25 de março comprar coisas para sua casa nova. Doroty fez o Homem-de-lata se apaixonar por Grey's Anatomy e acompanhá-la a incontáveis shows do Monobloco. Juntos eles viram barcos baterem, bêbados gritarem "tocando em frente" para o Renato Teixeira, outros amigos partirem para longe, pegando outro trecho da estrada dos tijolos dourados. Juntos eles encararam 5 sessões de cinema em um único dia, nas maratonas das mostras de cinema. Por causa dela, o Homem-de-Lata conheceu pessoas fantásticas, em vários cantos do país. Os dois já piraram muito com devaneios profissionais nos bares da Augusta. Fora todas as peças mico que ele a levou para assistir. A passeata em que ninguém compareceu, só os dois perdidos na praça da Sé. E é tanta coisa que fica difícil narrar. E tudo o que o Homem-de-Lata pode dizer à Doroty é: "continue percorrendo o caminho dos tijolos dourados. Eles vão te levar para casa", pois sei que "casa" é aquele lugar onde queremos tanto estar.

segunda-feira, março 05, 2007

Naked in NY

Estava fazendo uma limpeza na minha mesa, tentando tirar 6 meses de acúmulo de papéis na minha área de trabalho, e achei um bloquinho de anotações que carregava comigo na rua. Ele continha umas anotações que fiz quando estava em NY, em maio do ano passado.

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14/5 - NOVA IORQUE - Nessa cidade você se sente no topo do mundo. Pode se vestir bem e não gastar muito. Tudo acontece. É como se sentir o último dos contemporâneos, com acesso a tudo e no pico das tendências. O homem universal, propriamente dito. Um lugar onde certamente eu viveria - tranquilo e agitado, funcional e caótico, tudo que uma cidade moderna poderia ter. A minha incapacidade de me comunicar instantaneamente fica mais evidente a cada dia que passa. Isso é preocupante. As meninas da mesa ao lado ficaram o jantar inteiro me olhando e não sei se era de estranhamento ou vontade de me conhecer. Sem amigos de infância desta vez. E, onde vou carrego as pessoas que amo comigo. Isso é tão difícil de enxergar até você ficar sozinho em uma cidade onde ninguém te conhece e qualquer tentativa de aproximação é um esforço enorme de achar palavras e significados em uma outra língua. Agora, estou aqui no B.B. King Bar na 42th street (depois de ter ido na igreja batista do Harlem), hoje é dia das mães e vim assistir um show do Harlem Gospel Choir. Estou sentado com um casal de americanos na boca do palco e pensando que minha mãe e minha irmã iriam adorar estar aqui. E, assim, em todos os lugares que vou, lembro de cada pessoa, do seu jeito, das coisas que eles gostam. Daqui a pouco minha aventura por NY acaba e vou desbravar os mares do sul, rumo à Miami Beach, mas essa estada aqui foi grandiosa e útil para colocar as engrenagens do meu mundo de volta em movimento. Ainda vou precisar de alguns dias processando tudo o que aconteceu.