quarta-feira, junho 29, 2005

Pílula 1: I want a famous face

Lembrei de uma coisa que eu queria comentar. Alguém já assistiu esse programa da MTV, "I WANT A FAMOUS FACE"? Onde a pessoa se submete a uma série de cirurgias plásticas no corpo inteiro para poder ficar igual ao seu ídolo, santo, personagem de desenho animado favorito? Pois é, me deparei com esse programa um dia desses... e cada dia que passa fico mais besta com a capacidade das pessoas serem tão inseguras - nem considero futilidade, bobagem, nada... é a insegurança das pessoas aflorando, achando que parecer com alguém famoso vai aumentar a auto-estima, a confiança em si mesmo, eliminar a timidez, vai mudar completamente sua vida. E nada contra também contra cirurgia plástica, cada um faz o que quer da vida, não é mesmo? Mas como o programa mostra todos os detalhes da cirurgia, passei mal de ver como é traumático o processo, as pessoas parecem um pedaço de carne no açougue sendo perfuradas daqui, cortadas dali, enxertadas mais ali, socadas aqui. Em um dos programas, havia uma menina que queria se parecer com a Britney Spears, e que após a cirurgia, ela colocou na cabeça que tinha que conseguir subir em um palco e fazer striptease numa danceteria (de strip, claro) para provar para si mesmo que tinha perdido sua timidez, que era uma nova pessoa que superava seus limites... Aí fico pensando comigo mesmo: esse mundo está realmente perdido... estamos todos perdidos...

Um comentário:

Débora Andrade disse...

"Numa sociedade onde qualquer babaca quer virar celebridade, a figura do "ninguém" sempre me pareceu o melhor modelo de vida. E aqui não vai nenhuma pretensão estilosa do tipo 'é legal ser diferente'. ***** nenhuma. O que eu penso é que simplesmente 'ninguém precisa ser igual'.

Assisto sem nenhum entusiasmo e com bastante perplexidade aqueles filmes americanos de turmas de universidade com aquelas indefectíveis fraternidades onde o cara passa por uma coleção inimaginável de humilhações apenas com o inacreditável intuito de ser aceito em uma fraternidade de babacas. Não é muito diferente das ****** dos trotes universitários brasileiros. Babaca não respeita geografia.

Hoje em dia a rapaziada usa piercing, tatuagem (não que eu tenha exatamente nada contra o uso de piercings ou tatuagens, mas é que parece que grande parte da molecada começa a usar apenas numas de copiar outra pessoa e aí é esquisito), o mesmo corte de cabelo, gosta das mesmas músicas e das mesmas roupas e emprega as mesmas expressões ("Galera", "é dez", "é show", "baladinha" e outras que eu não consigo sequer repetir aqui sem ter o meu estômago revirado) e aí ele se sente parte de alguma coisa, é compreendido e aceito e não vira motivo de zombaria entre os demais, justamente por não ser diferente.

Mas o pior ainda é o outro: O inacreditável e assustador Famous Face. Sacaram qual é a desse? Uma maluca encasqueta que quer ficar parecida com a Jeniffer Lopez ou com a Britney Spears e tal estultice é incentivada. Em resumo, a transformação é filmada e testemunhamos a verdadeira frankesteinização sofrida pela pobre iludida. Ela se submete à operação plástica, lipoaspiração e o *******. Chega a ser nojento. Eu não entendo qual é a de um programa como esse. Será que a indústria da cirurgia plástica tá precisando de uma forcinha? Eu duvido. Nunca vi se falar tanto em botox, silicone, lipo e outras ******. Todo mundo tentando evitar o inevitável. Todo mundo querendo retardar o tempo incontrastável. Vivemos cada vez mais em uma gigantesca e apavorante Ilha do Dr. Mureau. ****-se Dorian Gray. Eu sou bem mais as rugas de Hemingway."

O dramaturgo Mário Bortolotto foi brilhantemente insuperável e objetivo. O texto inteiro está em seu blog: http://atirenodramaturgo.zip.net/

Abraço, e ótimo comentário.