
HOTEL LANCASTER
Provavelmente ganhou as quatro estrelinhas no guia da Folha pela excelente atuação de alguns dos atores, que nos deixam a pergunta se realmente estavam drogados em cena para conseguir atingir tal resultado. Mas a dramaturgia é pobre. Quem já não viu tal história? Um bando de desajustados em busca de nada - nem de redenção. A peça acaba assim também, no nada. E o pior foi que no dia em que assisti eu gostei, e gostei bastante. Mas depois, analisando friamente, nosso mundo contemporâneo precisa de mais. O texto não consegue nem ser o retrato do vazio, quanto mais conseguir transpô-lo.

ALDEOTAS
No dia não gostei muito, achei um trabalho menor de teatro. Mas não, e como estava errado. Precisava assistir, e re-assistir, e assistir de novo. Um texto delicioso, que sem recursos cênicos nenhum, te transporta para sua infância, para a fazenda no interior, para o gosto de terra, para as brincadeiras, para seu melhor amigo. Você tem quase duas horas de um prazer inenarrável, onde Gero e Marat te tornam cúmplice das histórias de seus personagens. Um texto sem pretensões, mas que te tocam, tocam lá no fundo. Ainda faltam o cenário, uma iluminação eficiente, o figurino, a música - essa falta só nos faz lembrar que um bom texto não precisa de nada disto - no momento em que vivemos, época de total descrença, o que vale é a palavra e a verdade que ela carrega, nada mais. Mas como diz o próprio texto de Gero Camilo, "é preciso um certo tempo para se fazer uma boa crítica".
KEROUAC
Eis a prova da total alienação teatral em que vivemos. Um ator vociferando palavras, cuspindo na platéia, suando, pulando, batendo uma máquina de escrever da forma mais esdrúxula possível e uma série de clichês que tentavam tornar o texto mais didático para uma geração que não viveu a década de 60, só podia resultar em 50 minutos de profundo distanciamento do objeto em estudo, o próprio Kerouac. Nenhuma nuance, nenhum sentimento, nada daquilo que está registrado em seus diários ou em suas entrevistas. Só achômetro colocado da pior forma possível: a superficial e sem embasamento para uma platéia que desconhece o assunto e toma por incrível o trabalho de um ator em puro frenesi. Repetindo uma frase do Wilde que é repetida constantemente na peça, "o caminho do excesso leva à sabedoria". Nesse caso, não posso concordar. O excesso, às vezes, é só excesso. E de fuder foi fechar com "Like a rolling stone", de Bob Dylan. Quer mais clichê que isso?
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Que Deus devolva a voz aos artistas. Ou que continuemos a recorrer a Nelson, Plínio, Caio, Clarice, todos vocês que tinham algo para falar e ser compreendido.
2 comentários:
Não vi essa última... Mas vc sabe que eu suuuuuper concordo com a sua crítica das duas primeiras... Hotel Lancaster é vazio... Não tem nada a dizer e quer com toda a força se fazer de muito cult... E Aldeotas é doce, gostoso... É uma daquelas peças que depois de assistir vc certamente sai andando com um sorriso de orelha a orelha...
Bjks e Saudadesssss!!!
Depois eu que sou amargo hehe (fui até reler meu texto sobre LMS e a única frase negativa q escrevi foi a que vc decorou, o Amargão hehe)
Pelo menos ficamos com opiniões iguais nas 3 peças hehehehe. Aldeota é um puta espetáculo, Hotel Lancaster é vazio, como vc diz irrelevante, e Kerouac decepção!!!
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