quinta-feira, maio 12, 2005

Como uma bala



O CONTO DA BALA CALIBRE 38
A bala foi retirada da caixa e colocada bruscamente no tambor da arma. O tambor girou, e lá ela ficou em tremenda ansiedade à espera do que poderia acontecer. Não tinha a menor idéia do que viria a seguir, para onde iria - tudo que via era um tremendo túnel negro e em seu limiar, uns raios fulgidios de luz. O tempo foi passando e a bala continuava esperando, esperando que alguém apertasse o gatilho e a projetasse para o mundo. Nada acontecia. A trava era liberada diversas vezes, mas da mesma forma, era ativada novamente. Havia momentos em que ela sentia a trava se soltar e uma leve pressão era colocada sobre o gatilho - pronto, seria aquele o seu momento, e um sorriso cheio de esperança se abria em seu interior. Mas o gatilho nunca era pressionado, e a bala voltava à sua vida de frustrações e fantasias.
Não precisava ser arremessada contra nada, não havia necessidade de destruir algo. Na verdade, ela nem queria isso. Ela queria ser atirada para cima, para o céu, sentir a velocidade agitar o ar, ver somente o azul, mesmo sabendo que o momento duraria tão pouco e que não poderia nunca vencer a gravidade. Mesmo assim, ela queria. Passou a tentar se rastejar pelo cano do revólver, claramente sem sucesso. Descobriu que somente ela poderia ser capaz de resolver aquilo. Somente ela era responsável por concretizar seus sonhos, e desde então começou a pesquisar maneiras de torná-lo realidade. Começou a fazer testes com a pólvora que carregava e, um dia, causando um enorme atrito interior, detonou uma força gigantesca que a projetou para o mundo. A arma atirou, ninguém entendeu como. A bala sentiu a adrenalina se espalhando por toda sua liga metálica, sentiu a pólvora queimar. Cruzou o cano e passou pela borda, agora era livre, mesmo não sabendo muito bem o que fazer com essa liberdade. Muitas coisas se passaram na sua cabeça neste instante. Uma pena que a arma estava sobre a mesa, e em questão de menos de um segundo, lá estava a bala incrustada na parede.

2 comentários:

Edu disse...

Nossa, esta foto está ótima e o que é este texto, gostei pra caramba...

Bjs e Abraços Apertados

Leandro disse...

Realmente muito bom esse texto. Um conto fantástico, pois, está além da realidade que conhecemos. Meus parabéns, mas - registre-o pq vc sabe né. vai q alguém pega.
Kizzes un' hugz