quarta-feira, maio 18, 2005

A saga de dona Josefa e o ônibus que não espera

Dona Josefa acorda todo dia às 4h30 da manhã. Mora na periferia, precisa cruzar a cidade para chegar no trabalho. Faz o café do marido, lava a roupa, estende tudo no varal, pega sua bolsa, prende o cabelo e sai, fechando o portão com cuidado para não fazer barulho com as chaves. É cedo, o sol começa a sair. E ela se joga na penumbra, em direção ao ponto de ônibus. Chega no serviço, limpa o dia inteiro. Passa alguns momentos cantarolando, outros resmungando, outros lembrando das decisões que tomou e que a colocaram nesta vida que ela conhece, e, em outros momentos, ela pára um pouco de esfregar as toalhas no tanque da patroa e, com os olhos perdidos em algum ponto, fantasia. Sonha em ir para algum outro lugar, de fazer outra coisa, de ser outra pessoa. O relógio marca 6h da tarde. Ela se arruma, pega novamente a bolsa, prende o cabelo, deixa a chave com o porteiro e sai. E então começa sua saga.

Sempre que está virando a esquina, o ônibus passa e pára no ponto, a alguns metros dali. Ela corre, corre, corre, grita e pede para esperar. Quando está chegando, o ônibus arranca. Ela chega no ponto com cara de tacho, senta, e se põe a esperar outro. No dia seguinte, a mesma coisa. Ela sai mais cedo, para garantir que vai conseguir pegar o ônibus no horário certo. Ele passa mais cedo, ela vê. O ônibus pára no ponto, ela corre, corre, e ele arranca. No dia seguinte, ela chega no ponto, o ônibus ainda não passou. Ela espera. Outro ônibus pára no ponto e o que ela tanto espera vem e passa por trás. Todos os dias a mesma coisa. Mais uma hora de espera e logo dona Josefa está pegando o outro ônibus para ir para casa fazer janta, passar e se preparar para outro dia.

Enquanto espera no ponto pela vinda do outro ônibus, dona Josefa, em seu modo simples, se põe a pensar em como sua vida é uma grande corrida atrás de um ônibus que não espera, e em como nunca pensou em desistir até se dar conta disso. Mas tomada de tal cansaço, ela pensa que talvez seja hora de parar de pegar esse maldito ônibus e ir caminhando.

4 comentários:

Anônimo disse...

Andy, eu sugiro q vc siga o exemplo de D. Josefa e siga caminhando...obviamente é um outro cenário, mas é q me lembro q se vc caminhasse desde q se mudou pra Perdizes, talvez a Mercedez estivesse entro nós. Ou não.Continue escrevendo, adoro ler um pouco do q se passa pela sua cabeça...e se esse comentários te estimulam, fique certo d q estarei aqui a cada postagem. 1bj, K

Edu disse...

adorei este texto... e tb concordo q vc deveria deixar o sedentarismo de lado e ter começado a caminhar antes... brincadeirinha...

Ah, qdo preciso de um colo amigo tô aí tá...

E espero que sua semana esteja um pouco mais tranqüila.

Bjs Querido

Leandro disse...

Bem, você deve investir nessa sua carreira de escritor de textos curtos, ou diria "contos"?, a qualidade que você anda delineando nas linhas virtuais são de qualidade indiscutível. Mas, por favor - registre-os antes que alguém os roube, hein!
XOXO e até breve.

Josefa Dias disse...

gostei da historia.