segunda-feira, outubro 23, 2006

Mostra - Dia 3 - Domingo

Acordar, ir tomar café-da-manhã na Bella Paulista com a doce companhia de Stelitcha, Renatinha e Laurinha. Ainda que a Rê tenha ficado jogando água fria na nossa fissura pela Mostra de Cinema e nos filmes que iríamos ver, que, conforme ela mesma disse, "são aqueles filmes iranianos com cenas que duram meia hora sobre a mosca pousando na folha". Não vou comentar.
Mas então, o café-da-manhã foi bom, rápido mas bom. Depois, Stela e eu corremos para o Cine Bombril para nossa sessão, a primeira de cinco.

Admiração Mútua de Andrew Bujalski (EUA)
O melhor filme até agora. Fiquei apaixonado por este filme. É o que aconteceria se a Nouvelle Vague acontecesse agora e nos Estados Unidos. Drama cotidiano com personagens tão reais que o roteiro parecia uma transcrição dos encontros dos amigos lá em casa. Com certeza este filme não vai sair nem em dvd aqui no Brasil, portanto, se puder, vá assistir. É sobre a estória de Alan, um músico que se muda para Nova York na tentativa de fazer sua banda dar certo. Lá passa os dias com o melhor amigo Lawrence e sua namorada Ellie, em discussões bêbada-filosóficas intermináveis, que resultam em sentimentos mal resolvidos e situações mal trabalhadas. O mais gostoso de tudo é a surpresa que um achado destes, no meio de tantos filmes, te proporciona.

A Promessa de Chen Kaige (China)
Só pode ser uma sátira de "Herói" ou de "O clã das adagas voadoras", não existe outra explicação. Risque da programação.

Climates de Nuri Bilge Ceylan (Turquia)
Isa, um professor universitário, é um marido (ou namorado, isso não fica claro no filme) egoísta e ausente para sua esposa/namorada Bahar, que trabalha em uma emissora de TV como diretora de arte de um seriado qualquer. Isa não se comunica, não consegue e não quer, e Bahar não consegue nada além de agir como uma criança indecisa sobre seu próprio relacionamento. Teve gente que gostou, teve gente que não gostou. O filme é lento. A Stela dormiu e acordou e a cena do ator fumando o cigarro não tinha terminado (brincadeira), e, sim, tem cenas de uma abelha pousando sobre a folha que quase duram meia hora. O filme não tem nada de original, mas eu gostei. Gostei dos planos - todos eles muito pensados com o cuidado de um diretor meticuloso. O roteiro não tem nenhum plot, o filme segue chapado do início ao fim, seus personagens não tem "salvação" nem passam por nenhum processo de "transformação". O homem continua egoísta e rude, a mulher continua infantil e abandonada. Mas aí lembro da sinopse da mostra - "O homem foi criado para ser feliz por uma simples razão e para ser infeliz por outras razões ainda mais simples, da mesma forma que nasce por uma simples razão e morre por outras mais simples ainda" - e com o filme fica claro que a única razão para não ser feliz é realmente não querer, não mudar, nem empenhar nada por isso.

A Última Noite de Robert Altman (EUA)
O grande diretor de "Short Cuts" e de outros grandes filmes faz feio em seu último trabalho. "A Última Noite" é dispensável, completamente descartável. Um elenco estelar desperdiçado com um roteiro pobre e sem sentido, que no final dá a sensação de "ok, não me interessa muito a vida destas pessoas pois elas não tem nada para mostrar". Só vá assistir se você quiser muito saber os jingles de todos os produtos mais esdrúxulos dos Estados Unidos, pois o filme reserva quase uma hora para 200 deles e meia-hora para o desenvolvimento da estória de 10 personagens diferentes. Enfim, só entrei nesta sessão porque "El Labirinto del Fauno" estava lotado mas chega de ver "grandes diretores" na mostra. Vamos em busca dos "achados".

Os Estados Unidos contra John Lennon de David Leaf e John Scheinfeld (EUA)
Ok, o tom pode ser meio de documentário da Discovery Channel, como disse um companheiro de mostra antes de começar a sessão de "Infância Roubada", no sábado. Ok, sou suspeito para falar já que adoro o assunto. Ok, existem vários documentários sobre Lennon. Mas, de qualquer forma, vale a pena ir conferir este aqui, sobre o envolvimento do cantor e de sua mulher nos movimentos pacifistas na década de 70 contra a guerra do Vietnã e tudo o que isso gerou contra os dois - embates políticos com o presidente Nixon, investigações do FBI, a iminente deportação dos EUA e o assassinato do cantor em dezembro de 1980. Os diretores não segue a linha de Michael Moore, não tentam provar nenhuma teoria da conspiração, apenas expõem alguns fatos, e isso pode ser frustrante para alguns já que o assunto fica meio na superfície. Mas mesmo assim, vale a pena.

Um comentário:

Stela disse...

É no mínimo muito engraçado ler o seu blog, depois o meu, depois o do Mitchel... Não necessariamente nessa ordem... Na ordem que for...
Muito engraçado mesmoooooo...