quarta-feira, outubro 25, 2006

Mostra - Dia 5 - Terça-feira

Correria nesta segunda para poder chegar no Frei Caneca às 17h20 a tempo do primeiro filme e ainda tentar encontrar o pessoal da produção do "Sonho de Peixe" para bater um papo. Mas deu tempo, conversei com a Fernanda, a produtora que contatou o Arturo há uns dois anos procurando produtores locais para a empreitada. Não me lembro direito qual a razão mesmo de não ter dado certo, acho que o Arturo já estava indo pra Barcelona e tudo o mais, mas enfim, se arrependimento matasse pois... o filme é ótimo. O Mitch já estava lá para a sessão de "O céu de Suely", a Stela não pode ir na primeira sessão e então acabei fazendo uma boa ação com o ingresso dela doando para um cara que conheci na fila. Deu tempo para bater um papo com o Lucas lá fora, trocar os ingressos e tudo o mais. Três filmes, dois nacionais e um australiano. Karim Aïnouz deu uma palavrinha antes do seu filme. O Kirill também. Uma pausa para um choppito e o almoço do dia às 9h da noite para poder seguir para o último filme da noite.

O céu de Suely de Karim Aïnouz (Brasil)
Estava comentando com o Mitch ontem que os filmes desta mostra são similares quando nos apresentam personagens sem rumo, perdidos em si mesmos, e ainda que lutem bastante, estarão sempre sujeitos às suas circunstâncias e fatalidades. Talvez isso seja um reflexo da nossa própria contemporaneidade - todos tão imersos em seus próprios fantasmas ou nas circunstâncias que não conseguem mais traçar sua própria trajetória. Enfim, assim o é em "O céu de Suely", a personagem se perde em suas próprias vontades, abandona São Paulo, volta ao sertão só para quando lá chegar perceber que ali não era o lugar que desejava estar, apesar da saudade e a falta de rumo a levarem de volta em busca de um refúgio, abrigo. A luta contra algo invisível, a ordenação de sentimentos complexos e involuntários. Dois momentos sublimes: a cena do jantar (que é de dar nó na garganta) e o final, quando ela parte - sua camiseta nos lembra uma roupinha de criança, um retorno à esperança; e a cidade ficando para trás, inerte. Karim nos deixa claro que a vida é um jogo, e faz isso muito bem.

Sonho de Peixe de Kirill Mikhanovsky (Brasil)
Não esperava grandes coisas deste filme. Onde já se viu, um russo falando sobre um país que ele mal deve conhecer. Pois é, paguei minha língua. O cara fala sobre o país "que ele não conhece" muito bem - está lá o Brasil verdadeiro, com pessoas reais, do jeito que elas realmente falam. Se você já esteve no nordeste, já visitou o sertão, pode concordar comigo. "Sonho de peixe" é a estória de Jusce, um pescador que mora em um vilarejo em algum lugar do Rio Grande do Norte. Ele é apaixonado por Ana, que vive em função de uma novela mexicana. A sinopse parece um verdadeiro dejà vu, mas Kirill consegue abraçar a alma das pessoas que vivem naquele lugar, a estória é mera coadjuvante - temos um Jusce que encarna com tamanha veracidade seus desejos, anseios, fragilidades e medos sem que precise colocar nenhum destes sentimentos em um mero diálogo. Ótimo filme.

Candy de Neil Armfield (Austrália)
Christiane F. foge para a Austrália, assume o nome de Candy, conhece o cara de Brokeback Mountain, que depois de perder seu amor, se afundou nas drogas, e assim os dois vivem o pior dramalhão do gênero com todos os clichês que se tem direito. Digno de uma sessão especial de Supercine. Variação de um mesmo tema sem tom algum.

Um comentário:

Michel Simões disse...

Andrews,
Sobre nossa conversa sobre ser uma tendência dos filmes terminarem com personagens longe da salvação, talvez seja o anti-clichê hollywoodiano do felizes para sempre; por outro lado, infelizmente poucas pessoas no mundo acabam encontrando o caminho... assim os filmes não estão sabendo dizer se houve ou não a revolução (hahahahahaha).
Abração!!!
Mitchell